terça-feira, 21 de abril de 2009

O Desfile



Chove. Chove muito. Raios, trovões e aquela vontade de não sair, de ficar em casa aconchegado e quietinho.
Mas espera! Que horas ela sai hoje da escola? Meu Deus, é por agora.... Será que já saiu.....? E essa chuva, esses raios, trovões ......
Coração apertado, corro ao seu encontro, e enquanto penso em protegê-la, sons e luzes explodem assustadoramente ao meu redor, ao mesmo tempo em que a chuva embaça os óculos e minha visão.
As pessoas, como dançarinos de um louco balé, correm esgueirando-se entre carros, arbustos e marquises a procura de proteção ............ E eu não a vejo.... Estará assustada? Preciso encontrá-la!
Fico imaginando se não estará escondida, encolhida em algum cantinho, tiritando de frio e com muito medo.
De repente, entre as gotas que me turvam a visão, vejo uma silhueta conhecida, perfil de pessoa querida e amada, e acelero o passo para oferecer aconchego e proteção para quem, imagino, deve estar apavorada em meio a tanta confusão.
De repente, desacelero o passo, mas o coração, ao contrário, aumenta o ritmo .....
O que está acontecendo? Por que ela não corre? Por que não se protege? Será medo?
Olho com mais atenção e observo que ela simplesmente caminha. Da até para observar um leve sorriso nos lábio vermelhos da boca bem feita. Os olhos, de vez em quando, olham para cima desafiando raios e trovões.
Custei a perceber que não era uma cena insólita. Não havia medo ou qualquer sentimento de aversão ao que acontecia ao seu redor. Ela simplesmente escolheu caminhar como que em um desfile elegantemente iluminado e sonorizado pela natureza.
Não tenho certeza, mas me pareceu que conforme ela caminhava os raios iluminavam seu caminho como spots de luz, obedientes à sua atitude e reverenciando sua beleza.
Parei de pronto, fechei meu guarda-chuva e não me aproximei.
Segui seus passos, guardando uma distância silenciosa, usufruindo aqueles momentos de beleza indizível. Recusei-me a interromper aquilo que até a natureza parecia respeitar.
Em meio à chuva que me molhava, à medida que a seguia e observava, constatei o inevitável. Ela crescera, começava a desafiar conceitos e escolher caminhos. Começara a testar o mundo ao seu redor, determinando seu espaço e ritmo.
Lágrimas misturaram-se com a chuva, lutando para superar o sorriso que já aflorava.
Ao mesmo tempo em minha cabeça uma certeza se solidificava.
Cumpri minha missão de pai!

Para Anna Carolina

Sergio Rocha

Um comentário:

Unknown disse...

Voce com certeza cumpriu seu papel de Pai. E eu tenho muito orgulho de ter voce como meu pai. Te amo eternamente. Beijos, Carol.