Antigamente era praticamente um discurso natural dos casais. Um filho homem era desejado principalmente pelo homem.
Nunca me liguei muito nisso, e quando minha prole revelou-se totalmente feminina, continuei sem ligar.
Amigos e parentes pareciam mais incomodados do que eu. Havia sempre a pergunta:
- Vai tentar o menino?
Ou então o comentário:
- Quem vai te acompanhar ao futebol?
Sem me importar com as perguntas eu argumentava:
- Meninas são mais carinhosas com o pai...
Ou então:
- Meninas são menos briguentas, dão menos trabalho quando estão na adolescência....
Às vezes, todavia, ante tanto questionamento, eu parava para refletir, avaliando se realmente eu não me importava.
Imaginava viver a experiência de ter um filho homem. Estaria essa experiência me faltando?
Um filho que torcesse desesperadamente pelo Fluminense?
Alguém para me acompanhar ao Maracanã, reclamar do juiz e do corpo mole dos jogadores?
Será que tendo um filho homem, eu teria com quem conversar até de madrugada sobre um nada-tudo, abordando música, cinema, bobeira, escoltados por uma cervejinha?
Será que faltaria um filho para compartilhar minha visão masculina do mundo/vida?
Por que eu nunca pensara nisso? Onde estava eu que no momento apropriado, mais jovem, não atinei com essa circunstância?
O que me ocupara então, de tal forma que não tive tempo para pensar em “equilibrar” a prole?
O que estaria eu fazendo?
Ah, sim, lembrei. Eu ora estava pegando a caçula, que no grupo de coleguinhas, muitos deles mais velhos, interferia, ditava as regras de como deveriam ser as brincadeiras, e muitas vezes deixava o “dono” dos brinquedos de fora, por considerá-lo sem habilidade.
Talvez eu estivesse brigando com ela, aconselhando-a para que na próxima vez que seus amiguinhos tentassem bater nela, bastaria me chamar, não sendo necessário defender-se literalmente com botas ortopédicas e dentes afiados (coitados!).
Ou quem sabe convencendo-a de que aquela colherada com que o menino vizinho chato foi premiado, e que tirou sangue, não seria necessária.
Ri muito com essas lembranças e vi que fui abençoado. Eu vivi todas as “emoções” da criação de um filho, com essa linda menina ao meu lado.
E com o passar do tempo, todas as outras questões por si só foram sendo respondidas:
Ela tornou-se uma linda mulher, adora o Tricolor e o Maracanã já acolheu nossos sorrisos e lágrimas, com ou sem cerveja.
Varamos a noite, nossa parte do dia preferida, conversando sobre os nada-tudo que adoramos, não poupando nada e ninguém de nossos comentários politicamente corretos ou não, mas sempre, sem modéstia, inteligentes.
Nunca me faltou também o ombro amigo sempre disposto a ouvir, às vezes sem precisar ou querer falar nada, mas sempre com amor incondicional.
Pensando bem......
Eu, hein, filho homem para que? Tô muito satisfeito!
Para Silvia – Agosto/2009